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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Aprendizes de Grevistas


Adolescentes franceses trazem do berço gosto por protestos
Lúcia Müzell, de Paris especial para o iG 21/10/2010 16:32

Eles ainda não compreendem direito o que está em jogo na reforma das aposentadorias, mas estão fazendo a diferença ao lado dos sindicalistas durante os protestos contra o projeto de lei que visa a aumentar em dois anos o tempo de trabalho e de contribuição social, passando de 60 para 62 anos a idade mínima para a aposentadoria. Por mais que passeatas e greves já façam parte da cultura francesa, há muito tempo não se via adolescentes em peso nas ruas, como acontece diariamente há uma semana, quando eles integraram o movimento que está parando a França desde setembro.

As palavras de ordem dos manifestantes com espinhas no rosto transbordam ingenuidade: o maior temor dos lycéens (estudantes de ensino médio) é de que tenham ainda mais dificuldade de encontrar emprego quando terminarem os estudos, uma vez que os adultos vão demorar mais tempo para sair do mercado. Como se as duas faixas etárias disputassem as mesmas vagas.


“É claro que essa reforma tem reflexos na minha vida!”, exclama a estudante Aïfa, 16 anos, inconformada com a pergunta sobre por que já está nas ruas protestando desde tão cedo. Hoje, estudantes de ensino médio e universitários organizaram sozinhos uma passeata conjunta pelas ruas de Paris, que reuniu entre 4 mil e 17 mil pessoas.

“Se os postos de trabalho em tempo integral e sem duração determinada já são raros agora, imagine se “os velhos” demorarem ainda mais para liberar vagas? Não é possível aceitar essa proposta”, disse a francesa, enquanto liderava, aos gritos, um grupo de jovens de Aubervilliers. Ao se observar a postura engajada da adolescente, mal dava para acreditar que ela recém se iniciou neste métier de manifestante – ela ficou tão à vontade que, passados três dias, Aïfa já comanda os colegas. Na terça-feira, ela participou pela primeira vez de uma protesto, e garante que foi amor à primeira vista. “Agora eu entendo por que sempre tem tanta gente. Juntos, nós nos sentimos mais fortes.”

As palavras de ordem dos manifestantes com espinhas no rosto transbordam ingenuidade: o maior temor dos lycéens (estudantes de ensino médio) é de que tenham ainda mais dificuldade de encontrar emprego quando terminarem os estudos, uma vez que os adultos vão demorar mais tempo para sair do mercado. Como se as duas faixas etárias disputassem as mesmas vagas.


“É claro que essa reforma tem reflexos na minha vida!”, exclama a estudante Aïfa, 16 anos, inconformada com a pergunta sobre por que já está nas ruas protestando desde tão cedo. Hoje, estudantes de ensino médio e universitários organizaram sozinhos uma passeata conjunta pelas ruas de Paris, que reuniu entre 4 mil e 17 mil pessoas.

“Se os postos de trabalho em tempo integral e sem duração determinada já são raros agora, imagine se “os velhos” demorarem ainda mais para liberar vagas? Não é possível aceitar essa proposta”, disse a francesa, enquanto liderava, aos gritos, um grupo de jovens de Aubervilliers. Ao se observar a postura engajada da adolescente, mal dava para acreditar que ela recém se iniciou neste métier de manifestante – ela ficou tão à vontade que, passados três dias, Aïfa já comanda os colegas. Na terça-feira, ela participou pela primeira vez de uma protesto, e garante que foi amor à primeira vista. “Agora eu entendo por que sempre tem tanta gente. Juntos, nós nos sentimos mais fortes.”


Um pouco à frente, a estudante parisiense Audrey, 17 anos, ajudava a empunhar uma longa faixa de protesto ao governo de Nicolas Sarkozy. Também para Audrey, as manifestações contra a reforma das aposentadorias ficarão para sempre marcadas como o primeiro protesto de sua vida, como um troféu.

“Não é preciso estar na universidade para se interessar por essas coisas”, reclamou. A esquerda francesa vem sendo acusada pela direita de manipular os estudantes para engrossar as estatísticas sobre os protestos. “Meus pais são professores e sempre participam dos movimentos quando são contrários a alguma coisa. Chegou a minha vez de mostrar a minha insatisfação”, disse.

Para o lycéen Liu, francês descendente de chineses, o gosto pelas manifestações não veio de berço, mas os costumes do país adotado pelos seus pais se infiltraram em sua vida desde cedo. “Cresci vendo a França nas ruas. É natural que, mais cedo ou mais tarde, eu também quisesse participar das passeatas”, conta o jovem de 17 anos. “Gosto muito da liberdade que temos de mostrar quando discordamos do governo. Faço questão de estar aqui e empolgar o pessoal da melhor forma que posso, em nome do futuro de todos nós”, disse, entre um e outro apelo à “greve geral” em um megafone.

A manifestação parisiense transcorreu sem incidentes e foi acompanhada de perto pela polícia. Já em Lyon, os protestos de jovens voltaram a ser palco de violência, com dezenas de vitrines quebradas e confrontos com a polícia. Não houve feridos.

Governo quer acelerar votação do projeto

Diante do impasse dos senadores em avançar a discussão do projeto de lei e votar o texto – o procedimento estava previsto para acontecer ontem -, o governo decidiu apelar para o chamado “voto único” a fim de acelerar os trâmites. O voto único, uma especificidade da Constituição francesa, permite ao governo solicitar à Assembleia e ao Senado que se pronunciem uma única vez a respeito de cada emenda em pauta, eliminando os diferentes turnos de votação dos quais os parlamentares normalmente dispõem.

“O debate não deve mais durar apenas por durar”, afirmou o ministro do Trabalho Eric Woerth, enquanto explicava a decisão do governo de apelar para o artifício. “Houve mais de 120 horas de discussões, tudo já foi dito.”

A oposição protestou contra a adoção da medida, que deverá forçar a votação entre a amanhã e o final de semana. “Vamos ser obrigados a supotar um procedimento excepcional. Sabemos que havia ainda muitos pontos para serem analisados”, protestou o líder da bancada socialista, Jean-Pierre Bel.

Diante das novidades, os sindicatos apressaram também a decisão de organizar dois novos dias de protestos nacionais. A sétima grande manifestação ficou acertada para a quinta-feira que vem, 28 de outubro, data prevista para a finalização do processo de votação do projeto de lei de reforma das aposentadorias - após a votação no Senado, o texto deve retornar à Assembleia para uma nova votação final. O segundo protesto anunciado hoje pelos sindicatos deverá acontecer no primeiro sábado de novembro (dia 6). Enquanto isso, as greves nos transportes e nas distribuidoras de combustível, além das manifestações isoladas – como a organizada hoje pelos estudantes – devem permanecer.

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